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Arte: Rafael Olinto

Caixinha de fitas: as preferências musicais nos ônibus de Belém do Pará entre 1970 e 1990

A videorreportagem revela as músicas que tocavam nos transportes coletivos e a diferença entre gênero musical a depender dos itinerários.

O município de Belém do Pará respira música, em cada esquina tem um bar tocando uma diversidade de canções; nas periferias da cidade, todos os dias, há alguém em sua casa com o som ligado apreciando suas músicas preferidas. E é principalmente nesses territórios periféricos que o brega paraense (e suas vertentes) mais ecoa das bocas de ferro. É uma paisagem musical que se estende ao infinito.

A investigação rendeu a videorreportagem “Caixinha de fitas”.

Esse convívio com a música também faz parte do cotidiano dos motoristas de ônibus da cidade, que amam ouvir as canções enquanto dirigem. Esses profissionais transportam consigo músicas nos mais diversos formatos: CD’s, pendrives, nas rádios FM ou até mesmo no celular conectado via cabo/bluetooth no sistema de som. E se toca de tudo um pouco, o repertório é bastante eclético, desde os clássicos matinais de Roberto Carlos até a agitação do brega pop de Roberto Villar. Porém, nem sempre essa variedade foi uma marca.

Na era de ouro das fitas cassetes, entre 1970 e 1990, descobri que a trilha sonora dos ônibus que faziam trajetos pelas áreas periféricas de Belém era totalmente diferente da que tocava nos coletivos que circulavam pelas regiões centrais da cidade. Nos anos 1980, por exemplo, enquanto na periferia o brega paraense rolava solto, no centro a ordem das empresas de ônibus era de não tocar esse gênero – um nítido exemplo de preconceito musical e social.

As empresas (de ônibus) vinham para cá gravar porque era muito caro você comprar uma fita de um artista só.

DJ Júnior Almeida

Para compreender melhor sobre essa tensão, fui até o Espaço Cultural Sonoro Paraense, sede da Aparelhagem Sonora Alvi-Azul, localizado no bairro do Curió-Utinga, na periferia de Belém do Pará, para conversar com o DJ e pesquisador Júnior Almeida, que por anos trabalhou gravando fitas para os motoristas e empresas de ônibus de Belém no próprio estúdio da Aparelhagem Alvi-Azul.

O DJ e pesquisador Júnior Almeida com a sua caixinha de fitas.

“As empresas (de ônibus) vinham para cá gravar porque era muito caro você comprar uma fita de um artista só. Eles preferiam que a gente gravasse vários cantores de um lado e vários cantores de outro lado”, explica o DJ, que entrou no universo da aparelhagem por meio de uma tradição famíliar que se iniciou com seus irmãos mais velhos.

Era justamente nessa época que as empresas de ônibus transpareciam as preferências em relação às músicas que deveriam ser gravadas nas fitas cassetes. Dando prosseguimento à investigação, tive a oportunidade de bater um papo com o ex-motorista de coletivo em Belém, e também DJ do “Coringão da Saudade”, Cícero Sarmento, que trabalhou em diversas empresas de ônibus que realizavam trajetos nas áreas periféricas de Belém.

Eu era mais do bregão que todo mundo gosta.

Cícero Sarmento

Perguntado também sobre a diferenciação entre os gêneros musicais tocados nas áreas centrais da cidade e nas periferias, Cícero revela que teve conhecimento a respeito do fenômeno por meio de alguns colegas de profissão que usualmente circulavam em linhas mais centrais da capital paraense, atingindo assim um público com um poder aquisitivo maior. “[Eles] comentavam que era uma música mais diferente, nacional, música romântica, esse tipo de música, né? Eu não, eu era mais do bregão (risos) que todo mundo gosta”.

Para saber um pouco mais sobre como funcionavam as preferências musicais nos ônibus de Belém do Pará entre 1970 e 1990, confira a videorreportagem “Caixinha de fita”, realizada exclusivamente para o Portal Embrazado:

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